quarta-feira, 31 de março de 2010

Não, não é Cansaço...

Hoje sinto-me demasiado longe de tudo para escrever. Tento articular as frases mas sou consumida por um falso cansaço. Procuro em mim palavras fortes para descrever o dia...começo a escrever e nada sai. Penso em tudo...e surge um poema...


Não, não é Cansaço...


Não, não é cansaço...

É uma quantidade de desilusão

Que se me entranha na espécie de pensar,

E um domingo às avessas

Do sentimento,

Um feriado passado no abismo...


Não, cansaço não é...

É eu estar existindo

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Como tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.


Não. Cansaço por quê?

É uma sensação abstrata

Da vida concreta —

Qualquer coisa como um grito

Por dar,

Qualquer coisa como uma angústia

Por sofrer,

Ou por sofrer completamente,

Ou por sofrer como...

Sim, ou por sofrer como...

Isso mesmo, como...


Como quê?...

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,

Que formidável realejo

Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.

Confesso: é cansaço!...


Álvaro de Campos


Até Breve!

0 comentários: